13 de mai. de 2008

Steel Empire (Hot-B / Flying Edge - 1992) - Mega Drive e GBA

Antes, um pouquinho de história. Tenho um certo envolvimento com esse jogo:

De volta a 1992, eu era um fã de shmups com 15 anos, sem grana e dono de um
Mega Drive
(talvez a melhor plataforma para shooters já feita). Os cartuchos originais eram proibitivamente caros e, além do que, nunca apareciam nas prateleiras. Não os que eu queria. Meu pirateiro local, no entanto, contornava isso trazendo os famosos cartuchos alternativos, fabricados em algum ponto obscuro da geografia terrestre, localizado entre o Paraguai e Taiwan. Eles sempre vinham em caixinhas plásticas genéricas com capas e labels feitos em papel de foto, coloridos, meio desbotados, custando mais ou menos US$ 15,00. O cartucho tinha formato americano, porém, o jogo era sempre japonês. E viva a globalização!

Eis que, por já me conhecer e saber que eu estava atrás de algum shmup (carinhosamente chamados de "jogo de navinha" na época), me chamou de canto na loja e perguntou quanta grana eu tinha pra comprar um jogo bacana. A resposta foi certa: "Não muita". Lembro que ele praticamente me deu o cartucho, pois veio errado. Era uma capa doida, toda em tons pastéis, parecia um zepellin com hélices, uns kanji enormes e, logo abaixo, escrito miúdo Steel Empire. Algo mais ou menos assim:


Ele só sabia que era jogo de navinha e que eu era o único maluco que comprava isso, logo, era vender pra mim ou ficar com mercadoria encalhada. Dei a grana e fui pra casa, sem saber ao certo se tinha comprado uma bomba ou não. Era um cartucho feio, pesadão e mal-acabado, achei que havia sido passado pra trás. Pra minha sorte, eu estava errado. Muito errado!

Steel Empire (ou Koutetsu Teikou no Japão, Battlewings na Europa) é um jogo sensacional. A arte do jogo é toda Steampunk, com cara de coisas que Júlio Verne criaria. Há um filminho na abertura, todo feito em sépia e com som de projetor de fundo, relatando a guerra entre duas nações: Silverhead (os bonzinhos) e Motorhead (os vilões que estão invadindo tudo e todos).

O império de
Motorhead, no entanto, não conta com a tecnologia superior de seu inimigo, que possui a Lightning Bomb, um invento que reproduz o fenômeno meteorológico do relâmpago de forma controlável, podendo ser usado como arma ou combustível das naves. Com isso, você, o último piloto de Silverhead, vai pegar o último avião (ou o último zepellin) da frota e rumar contra seus inimigos e suas insanidades mecânicas gigantescas. Como sempre, alías.




Dependendo da fase, o avião ou o zepellin são melhores. Eu acostumei a jogar o jogo todo com qualquer um dos dois, mas, fica aí a minha dica: Pegue o avião na 1a, 4a e 5a fase. Nas outras, jogue com o zepellin. Na última, tanto faz. É difícil com qualquer um. As diferenças são: O avião é mais manobrável, porém, tem menos vitalidade e o poder de fogo é dividido entre ar e terra. O zepellin é mais lento, praticamente não serve para matar alvos no chão, porém, tem uma arma auxiliar que lança bombinhas pra cima, em parábola, que é bem útil.





Com qualquer das duas naves é possível atirar para frente e para trás (é só trocar o botão de disparo) em qualquer momento do jogo, ou usar as raras
lightning bombs, que, por sua vez, mostram-se extremamente eficazes e muito melhores que as bombas dos outros shmups. O poder de fogo "sobe de nível" quando o jogador consegue coletar três power-ups de "Experiência" (???), mas não há variação de armas. Só o mesmo tiro que fica mais forte. Ainda há power-ups para encher a vitalidade, options, speed-up, e... bem... dinheiro... que não é usado em nada no jogo e só serve para aumentar o placar.

Por falar em placar, vamos aos números de
Steel Empire.

Gráficos: 9.5

É impressionante como este jogo foi bem-trabalhado. A escolha das cores, dos efeitos de luz, o design das naves... o jogo tem um charme que explora essa estética retrô como nenhum outro fez. O time de designers da Hot-B passou, sem dúvida, um bom tempo acertando todos os detalhes e até os críticos mais chatos (eu, no caso) não conseguem ter do que reclamar. Há quem vá jogar e dizer "puxa, mas o jogo nem é tão bonito assim". Se levarmos em consideração Gaiares, que é sobrenaturalmente lindo, eu concordo. Gaiares tem gráficos brilhantes, cores vivas, e Steel Empire é opaco, fosco, com aquela cara de coisa antiga. Mas a idéia é essa! Vou manter o 9.5, pois, na minha opinião, nota 10 mesmo só merece a
Renovation/Telenet pelo Gaiares. Que, por sinal, vai aparecer por aqui em pouco tempo.

Acima: Começo da terceira fase, um ataque-relâmpago começa com mergulho por entre as nuvens durante um por-do-sol. As cores vão mudando conforme a passagem e o fundo é todo em paralax.

Som: 10.0 - A música simplesmente se encaixa perfeitamente no contexto do jogo. Ela acelera quando tem que acelerar, desacelera quando precisa e é tem toda a cara de trilha sonora dos filmes de biplano da 1a Guerra Mundial. Não tem o que dizer. É perfeito, só isso. O som dos tiros e das explosões não está lindo, mas a música compensa e muito. Não vou estragar o "10.0" deste jogo por conta disso. Recomendo jogar usando fones de ouvido e, claro, capacete e óculos de vôo.

Desafio: 7.0 - O jogo não é difícil, nem fácil demais. Muda um pouco da AI dos inimigos quando se altera o nível de dificuldade, mas nada significativo. O que muda , de fato, é a quantidade de vidas e continues. Claro que depois da 4a ou 5a fase o bicho pega, mas se não pegasse seria estranho. Quem não é fã de shmups vai gostar da dificuldade de Steel Empire, pois não exige tanto assim do jogador e a curva de aprendizado é bem rápida. Uma pena que, depois disso, o jogo se torne meio fácil, à não ser nas últimas fases (digo "nas últimas" pois parece que o jogo está na última fase várias vezes, mas sempre surge mais uma!).

Diversão: 10.0 - Este é mais um 10.0 que eu dou sem medo de errar. Veja, o jogo tem dezesseis anos. Mesmo sendo tecnologicamente obsoleto e que eu já o tenha terminado inúmeras vezes, sempre que eu passo por ele, simplesmente acabo perdendo uma ou duas horas na frente da TV, pois é impossível não jogar até o fim. Podia ter um modo 2 players, mas não sei se o Mega Drive não ia abrir o bico ou se o jogo não ia ficar fácil demais. A coisa toda é muito bem equilibrada: Inimigos pequenos e grandes alternados, missões ar-ar e ar-terra... é perfeito.

Overall: 9.5 - Arredondando para cima mais uma vez, pois o Steel Empire tem vários extras. Bosses enormes, jogabilidade exclusiva, filminhos "de época" entre as fases, música perfeita, arte soberba e, principalmente, a virtude de ser um jogo extremamente viciante. O que faltou um pouco para ser perfeito era um grau de desafio mais elevado e um arsenal maior. Jogar com a mesma arma do começo ao fim do jogo não é lá muito divertido. Se tivesse pelo menos uma ou duas armas extras, aí sim, não teria do que reclamar. Mas, o grande diferencial que me fez gostar de Steel Empire desde a primeira vez que o joguei, foi o fato de ter história! Shmups com história são algo raríssimo! Acho que desde os Gradius de MSX que eu não via algo do tipo. O povo da Hot-B realmente fez o dever de casa. Uma pena que não tenham feito outros jogos deste nível e acabram sendo uma softhouse bastante obscura.


Pontos Interessantes:

- Na terceira fase, há uma Mega Batteship, parecida com a de R-Type. Ah, e essa é até verde!

- Na segunda fase, depois de destruir o boss, você tem que fugir da explosão que acontece dentro caverna em velocidade total, no melhor estilo Gradius. E o jogo vira ao contrário! Você sai voando pela esquerda! Bizarro!
- As últimas fases são simplesmente sensacionais e guardam ótimas surpresas. Jogue. Apenas jogue.
- Não confundir com
Steel Empire de Amiga, que é um jogo totalmente diferente.
- Por falar em Amiga, há um jogo que lembra muito Steel Empire, só que é vertical. Chama-se
Banshee, e é um shmup bem bacana, mas que nem chega aos pés deste aqui.
- Existe um certo replayability no jogo também, que é o desafio de se jogar tudo de novo com a nave que você não escolheu.
- Comprar ou Alugar? Se você tiver a sorte de encontrar um... compre! Se não for ficar com ele, venda pra mim! Um desgraçado me roubou este cartucho há uns anos e eu nunca mais consegui achar para venda, nem pirata.
-
Há uma versão para Gameboy Advance, com algumas correções nos sprites e gráficos melhorados, mas o jogo permanece o mesmo. Quem tiver um GBA, cuja biblioteca tem pouquíssimos shmups, já fica aí a dica.

2 comentários:

Gustavo disse...

Adoro esse. Mas nunca tinha ouvido falar em Battlewings, tenho um cart europeu e ele se chama "Empire of Steel".

coffeejoerx disse...

Pô, esse jogo é muito bom, tenho a versão americana e é muito legal mesmo esse jogo.

Só achei que alguns mestres são repetitivos, de resto, nota 10.

Muito boa sua análise, parabéns.