26 de jun. de 2008

Recca Summer Carnival'92 (Naxat Software) - NES

Em termos de shmups, o velho e bom NES não passa de uma lástima. Existe um punhado de jogos razoáveis que foram portados para praticamente todas as plataformas como Salamander, Zanac, Xevious, Gradius, mais uma montanha de shmups terrivelmente ruins que não valem à pena serem citados. Os shmups chegaram com força no fim da vida do NES e nem o Super Nintendo conseguiu ter uma quantidade boa de grandes títulos , com exceção feita a Axelay, Gradius 3 e os R-Types. Fora estes que foram citados, a Grande N ficou devendo aos fãs uma boa biblioteca dos nossos amados "jogos de navinha" por duas gerações. Há quem não tenha sentido falta e há quem (como eu) tenha migrado para o Mega Drive e o PC Engine em busca do que jogar.

Porém, já no fim da vida do NES, em 1992, a Naxat Software lançou Recca Summer Carnival - um shmup de competição extremamente bem feito em termos técnicos, absurdamente difícil e que, literalmente, coloca o hardware do NES para fazer o que ele não poderia fazer. Os programadores literalmente tiraram leite de pedra e colocaram (sabe-se lá como) uma porção de objetos simultaneamente na tela, em um framerate absurdo, chefões enormes e uma variedade de armas excelente.


Você nunca viu (e nem vai!) um NES colocar tantas coisas se mexendo ao mesmo tempo na tela de uma vez.

O jogo conta com todos aqueles modos de competição clássicos da época: Time Attack e Score Attack, típicos nos jogos de PC Engine da série Star Soldier, fantásticos por sinal. No modo Normal Game, o jogo conta com quatro fases. Aí você diz: - "Quatro fases! Porcaria de jogo fácil!". Ledo engano, meu caro. As fases são longas e penosas. Você vai se pegar em várias sequências do tipo morre-volta-morre-volta-morre e não há tantas vidas e continues assim, ou seja, treine. Treine muito. Não subestime o sadismo dos programadores de um shmup de competição.


Chefões enormes! Coisa meio rara de se ver nos shmups de NES.

Por falar nisso, o que mais assombra em Recca, sem dúvida, é a competência dos programadores. O que eles fizeram é praticamente impossível e há momentos em que você fica se perguntando se está jogando apenas um NES. Não tanto pela beleza dos gráficos (que são datados sim), mas pela velocidade do jogo e pela quantidade de coisas passeando pela tela ao mesmo tempo. A impressão que se tem é que os caras que fizeram esse jogo treinaram como fazer milagres em demos de NES, e só depois fizeram o jogo.


Cenários muito bons, nada de ficar repetindo um "tile" ad infinitum só pra encher linguiça.


Enfim, Recca é um típico shmup turbinado de NES, que não tem cara de jogo dessa plataforma. Em termos de jogabilidade ele não provoca nenhuma surpresa, mas a aparência final é assombrosa.

Vamos aos números de Recca:

Gráficos: 10

As imagens, separadamente, não transmitem tudo que o jogo é. Servem apenas para dar uma idéia de como o jogo se parece, porém, ele é muito mais bonito quando jogado. Há fases onde nuvens inteiras de inimigos atravessam a tela. Na segunda fase, a tela toda "ondula". Todos os chefões são enormes. Enfim, é o tipo de coisa que ninguém esperava ver um coitado de um NES fazendo. Não dá para dar menos que 10. Alguém foi muito chicoteado para esse jogo sair assim.

Som: 6

Música boa, não chega a ser grudenta (como a dos jogos da Konami), mas não está ruim. Os efeitos sonoros são meio pobrezinhos, mas, enfim, quem se importa? A ação do jogo é tão frenética que ninguém presta atenção neles...

Desafio: 10

Recca é um shmup casca-grossa e ponto final. Não tem o que discutir. Jogue e comprove.

Diversão: 7

Embora os quatro estágios sejam longos e difíceis, parece que fica faltando alguma coisa em Recca. A jogabilidade é boa, há uma arma que vai carregando sozinha quando você não atira, e dominar o sistema alternado de tiro leva um certo tempo, mas a pouca variedade de estágios, cenários e utilizações do arsenal (todos são ofensivos, sem nenhum defensivo) faz com que o jogo torne-se meio cansativo, especialmente para quem ainda está começando a desvendá-lo. Recomendo uma boa dose de paciência e perseverança, e, claro, uma caixa de Lexotan (apenas em casos extremos). Se você gosta de desafios, pode considerar a nota aqui como 10. Se prefere shmups mais tranquilos, bem... vai jogar Twinbee! Recca é um jogo para provocar destruição em massa e juntar pontos, só isso. Mas ele faz muito bem o que se propõe!

Overall: 8.5

Arredondado para cima em honra dos programadores que fizeram o impossível com um hardware bem limitado.

Pontos interessantes:

- Recca possui uma arma que vai carregando e dispara um super-tuchão, como em Mars Matrix! Seria ele o antecessor direto? Há várias semelhanças entre os dois jogos, quanto a inimigos, fases e programação visual.

- Há uma forte influência de Aleste na produção do jogo. Diria até que chega a ser um tributo.

- É exclusivo para NES e não saiu para mais nenhuma plataforma.

16 de jun. de 2008

Raiden 3 - (Seibu Kaihatsu / Moss) - PS2 / Arcade



Desde que ouvi falar de Raiden 3, pude notar que as opiniões se dividiam. Alguns falavam bem, outros falavam muito, muito mal, o que é deveras estranho. Fãs de shooter costumam gostar da série, que é um clássico em plena quarta edição (Raiden 1 e 2 - no pacote "Raiden Project" - e o sensacional Raiden DX saíram para PSX). A pergunta na minha cabeça era: O que saiu de errado? Como conseguiram estragar Raiden, que é uma fórmula simples e que agrada sempre?

O jogo de 2005, criado pela Seibu Kaihatsu, lançado pela ilustre desconhecida "MOSS", não é lá muito fácil de encontrar. Consegui comprar minha cópia (sim, eu coleciono shooters e faço questão de ter os originais) em uma livraria, por um acaso, e paguei R$55,00 por ela, coisa que até que está dentro dos parâmetros de preço para jogos originais, uma vez que o adquiri mais como item de coleção do que como jogo.

À primeira vista, uma coisa me assustou: Os gráficos em 3D. Raiden em 3D é, sim, bem esquisito e acho que isso, em grande parte, fez o povo torcer o nariz. Não que o jogo esteja feio, mas é a assimilação da idéia que leva um tempo para acontecer. Não posso dizer que eu não prefira aqueles sprites grandões, desenhados à mão, à arte 3D meio insípida e "clean", mas também não dá para negar que ficou bonito. É a nova cara de Raiden, parece um Ikaruga e não algo saído de um Mega Drive com esteróides, e isso causa um certo estranhamento.


Agora as explosões e os lasers refletem nas superfícies, o laser azul ficou muito bonito.

Já o som, desse sim, eu não gostei. A trilha sonora de Raiden era algo que misturava batidas de rock com melodias eletrônicas, algo que empolgava, que ficava na cabeça, que te fazia assoviar no trânsito ou cantar no chuveiro, como as tilhas de Gradius, Afterburner, Tatsujin e Ikaruga. Já a trilha nova é algo infinitamente sem-graça. Parece musica de tele-noticiário das 7. Os efeitos sonoros são os mesmos das versões anteriores, mas a música-tema podia (e merecia!) ser melhor trabalhada.

Mas, sem dúvida alguma, o maior erro neste jogo foi trocarem o laser roxo, que dava voltas pela tela, grudando em inimigos maiores e pegando os menores por tabela, por um tiro verde que se desloca a 30 graus para a direita ou esquerda, à partir do bico da nave. O antigo laser roxo (o "power up" era roxo, mas o laser saía verde em algumas versões) era uma ferramenta e tanto para se conseguir acabar o jogo. Raiden sempre foi muito difícil, e, em algumas fases, sem esta opção, era praticamente impossível passar, pois você podia "travar" o tiro em um "mini-boss" e usar os "loops" que ele dava para acertar os inimigos menores que vinham voando. Já o laser verde, é completamente inútil ! Não tem uma fase sequer em que é melhor usar ele do que a o Vulcan (vermelho) ou o Laser (azul), e ele gera apenas uma dificuldade à mais no jogo: Evitar de pegar a arma verde!


O antigo tiro roxo não está mais presente...


.. e novo tiro verde, o pior inimigo em todo o jogo.

No mais, o jogo segue a fórmula básica, com algumas alterações. Achei mais fácil que os anteriores (principalmente que o DX, que é a "championship edition" da série), principalmente pelo fato de terem alterado o esquema de progressão das armas. Antigamente, era:

Vulcan nível 1 -> Pega o power up azul -> Laser nível 1 -> Pega o power up vermelho -> Vulcan nível 1

Agora é:

Vulcan nível 1 -> Pega o power up azul -> Laser nível 2 -> Pega o power up vermelho -> Vulcan nível 3

Ou seja, não é mais necessário "perseguir" um tipo de tiro para torná-lo mais forte. Desde que você saia pegando todos os power-ups, uma hora o poder-de-fogo da nave fica imenso, coisa que levava tempo e prática nas versões anteriores e que agora tornou-se fácil de conseguir.


















Atole o inimigo em pilhas de tiros!!!

Há, também, uma nova arma secundária, o "Rocket", que é uma bomba mais ou menos guiável (como os tiros em River Raid). Você dispara e ele segue o movimento da nave. Me pareceram bem úteis para serem usados contra os chefes de fase, mas nada que influencie muito a jogabilidade, principalmente se você tiver o azar de ter pego o laser verde, que faz a mesma coisa.

O jogo é divertido e, apesar de fácil, rendeu umas boas horas na frente da TV. O disco vem lotado de extras, modelos das naves em 3D, artwork, etc, e mesmo sendo apenas um CD-ROM, os caras tiveram o cuidado de tentar lotá-lo ao máximo. Mas a grande surpresa, que valeu a compra, ainda estaria por vir...

Depois de ter terminado o jogo de todas as formas possíveis, comecei a fuçar todos os menus de opção. Achei meios de esticar a tela, mudar o som, os controles, aquilo tudo que sempre tem nos jogos atuais. Porém, notei que haviam três modos de jogo: Single Player, Two Players e Dual Player. Poxa, por que dois modos de dois jogadores ? Descobri que um era, de fato, o já tradicional modo de dois jogadores, cada um em um controle, e que o outro é um modo que coloca duas naves sob controle do mesmo jogador, no mesmo controle ! Sim, você controla o Raiden azul e o vermelho ao mesmo tempo, usando os dois direcionais analógicos do controle, e o L1 e R1 como tiro e bomba do jogador da esquerda, e o L2 e R2 para o jogador da direita! E o jogo torna-se absurdamente complexo e divertido! Isso justifica o fato de terem reduzido a dificuldade e retirado o tiro roxo. Afinal, duas naves, cada uma com um tiro roxo, ia tornar o jogo em modo "Dual" maçante. É extremamente útil atirar atrás da nave que está na frente, fazendo um "spray" de tiro especial, excelente para matar os chefes de fim de fase. Mas ao mesmo tempo em que o jogador fica mais poderoso, por controlar o dobro de poder-de-fogo, o jogo torna-se muito mais difícil pois a quantidade de vidas é a mesma do modo "single-player", ou seja, menos vidas por avião perdido. Além do que, é necessário se esquivar por dois e controlar duas posições na tela simultaneamente.

Em suma: Um shooter clássico refeito, com novas opções de jogabilidade e gráfico remodelado. Tente o modo dual e seu cérebro vai fritar, mas por uma boa causa! Agora que os preços de jogos de PS2 estão caindo vertiginosamente, vale muito à comprar o original. Quem achou que perdeu dinheiro (ou mídia?) com este jogo, está muito enganado e devia tentar o novo modo dual player.

PS: Raiden IV está confirmado para XBOX 360. Espero que tirem o tiro verde, arrumem a música e mantenham o dual player mode. :)

Score:

Gráficos: 7.0
Não tem nada "faltando" em Raiden 3. Nem sobrando. Ele é tudo que se espera de um shmup feito para um console com capacidade 3D plena como o PS2. Não ficou nada mal, nem feio, mas os designers podiam ser mais criativos ou exagerados (como de costume) que ninguém ia reclamar.

Som: 5.0
O som não chega a ser ruim, mas é extremamente sem-graça. Fica a impressão de que se está ouvindo o tema de um telejornal o tempo todo. Onde estão as trilhas eletrônicas mescladas com heavy-metal e tom militar das outras versões?

Desafio: 6.5
Este jogo, sem dúvida, não foi feito com foco no maniac-player, e sim no casual. Não é difícil. Pode tornar-se difícil depois de um certo ponto, mas não tem aquela crueldade constante dos antigos Raiden.

Diversão: 7.0
Não é a coisa mais divertida já lançada para o PS2, mas vale umas boas horas, principalmente se você é fã da série. O modo de jogar com duas naves no mesmo controle, sem dúvida, é a coisa mais bacana do jogo e faz com que valha a compra. Recomenda-se adquirir também um par novo de olhos.

Overall: 6.5
Os fãs podem achar interessante. Os não-fãs vão achar "OK". Os que gostarem de um modo totalmente freak de jogar, vão amar.