12 de abr. de 2012

Air Gallet (Banpresto, 1996 - Arcade)

Tem dias que você acorda meio "troo". Hein? Como assim "troo"?

Ok, uma pequena aula sobre gírias esquisitas:

Troo (adjetivo): Corruptela do inglês "true", que quer dizer "verdadeiro". Geralmente usado errado mesmo (grafia "troo" ao invés de "true"), na forma de uma chacota respeitosa para designar algo legítimo além do legítimo, puro além do puro, hardcore além do hardcore. Exemplo: Fanáticos por heavy metal dirão que são "troos" pois, afinal de contas, eles escutam Black Sabbath, Judas Priest, Motorhead e AC/DC e não as bandinhas pós-Nirvana. Ser troo não é apenas ser tradicionalista. É ser um PhD em tradicionalismo ortodoxo extremista que não aceita divagações ou desvios de conduta. Ser troo também é, antes de mais nada, não ser de mentira. Afinal, ser "meio troo" faz de você um cara "meio de mentira", um pária, degenerado, hipócrita, que só faz isso para enganar os outros e ser socialmente aceito. O mínimo aceitável para ser troo, se isto fosse quantificável, seria uns 357% legítimo. E ainda assim, tendo que duvidar de quem é menos troo que você, ou que não esteja exercitando o trooismo o tempo todo. Linuxers troos não usam Ubuntu com modo gráfico, mas sim Linux Coyote em disquete. Vegetarianos troos não comem alface que não tenha sido plantada por eles e regada com chuva, no próprio quintal de suas casas. E por aí vai.

Um troo não deixa dúvidas e não permite questionamentos. Ele é troo. E ponto final.

Enfim, retomando - Tem dia que vc acorda "troo". E quando isso acontece, você não quer jogar os shmups novos, super fáceis, cheios de vidas, bombas, barrinhas de energia, escudos, arminhas que varrem metade da tela, chefões bobos e lentos, tempestades de bolinhas que formam túneis. Não. Você não quer nada disto. Você não quer nada separando você da destruição franca e honesta. Você não quer pilotar bruxinhas, nem passarinhos, nem dragõezinhos, borboletinhas ou [escreva aqui algum elemento de anime] por uma tela cheia de naves. Você quer um avião. Só um maldito avião. Um, daqueles que voa, atira e joga bombas, e que explode quando bate em algo. Oldschool mesmo. Clássico, eterno e infalível.

E aí você olha para todos os jogos modernos e pensa: Onde está o meu avião? Aquele que destrói tudo na tela, sem rodeios, sem modismos, sem tendências asiáticas incompreensíveis? Aquele com duas asas e que solta tiros pela frente? ONDE ESTÁ A PORCARIA DO MEU AVIÃO?





Pois é, meu caro... Ele está no Air Gallet! Um jogo desconhecido, de uma produtora bem incomum. Mas posso garantir uma coisa: O jogo é um shmup muito troo. Muito troo mesmo.

Para começar, Air Gallet não tem história. Tem coisa mais troo que não ter história? Enfim, quem precisa dela? Se quer história, vai jogar Final Fantasy! Sim, a história é horrível, depressiva, cheia de buracos e incoerências, ou seja, de qualquer forma você está melhor sem ela. E como Space Invaders não tem história (reflexão de um troo, repare), Air Gallet está muito bem sem ela. Você é o avião, que decola do porta-aviões (óbvio!) e vai atirar em inimigos que vem em sua direção. Pronto. Simples, ortodoxo e direto, como tem que ser.

Até o flyer é troo. Um manche. Tiro. Bomba. Precisa mais?

A dificuldade do jogo é bem balanceada no decorrer das fases. Você morre quando tem de morrer, sem grandes surpresas. Apareceu um inimigo grande? Morreu. Chefe no fim da fase? Morreu. Uma tonelada de inimigos vindo ao mesmo tempo? Morreu. Ué? O que você esperava? Eles são seus inimigos e não gostam de você! A regra diz que, segundo o que ocorre no Raiden, um inimigo grande ou uma porção de inimigos médios é um momento em que seu cérebro tem que se condicionar a atirar e desviar que nem um troo, oras. Não como uma criança de 12 anos que está jogando um dos shmup atuais, facílimos, em um iPhone 4S que a mamãe deu. Se você é troo, você joga jogo de troo e morre como um troo: Com a honra de ser cruelmente alvejado por uma horda de inimigos, e não porque um SMS chegou e tirou sua atenção.

O jogo conta com quatro armas, sendo que uma é mais um problema do que uma arma em si. São elas:

L - Laser (azul): De longe, a arma mais troo de todas. Todo focado para frente e você que se vire para manobrar.
M - Mísseis (amarelo): Perseguem o inimigo pela tela e tem um tiro frontal também. Muito útil quando a tela fica cheia de inimigos.
F - Gatling Fire (vermelho): Abre um cone à partir do nariz do avião. Boa arma de suporte, mas eu achei meio fraca para os chefões.
H - Hunter (verde): Um tiro horrível, nada intuitivo, nada útil. Ele aponta para a direção oposta do movimento da nave. Tentei achar algum momento do jogo em que ela é útil, mas não, não tem. Evite pegar pois não presta para nada.

O tiro azul, fazendo estrago mesmo com 1 power up.

Ainda tem dois tipos de bombas: Energy Spark (verde), que destrói todos os inimigos da tela e seus respectivos tiros, e o Thunder Dive (azul), que forma uma bolha azul enorme em cima de um inimigo logo à frente do avião, causando um belo estrago. Nem preciso dizer qual é a mais troo. Thunder Dive na cabeça! Mata chefões sem dó nem piedade. O jogo tem modo 2 players, se cada jogador pegar um pegar um tipo de bomba, a coisa fica bem equilibrada.

Remorso é para os fracos: Dive Thunder neles !

O jogo tem seis fases, o que pode parecer curto, porém não é. As últimas duas, principalmente, dão um trabalho do cão para os menos treinados e pode acabar sendo um desafio mediano até para os troos. Os chefes, todos, sem exceção, são bem bonitos e não, não te decepcionam. Não tem mech vestido de menina colegial japonesa, como em Dodonpachi Dai-Oh-Jou. Não tem samurai voador que atravessa um portal mágico e se transforma em avião da Luftwaffe, como em Akai Katana. Não. Não tem! Sabe quando você vê um tanque no jogo? Sim, ele é isso mesmo, um tanque! E um navio, é o que? Um navio! Não é lindo isso?  Me diga se 1996 não foi uma época linda?

Uma massa metálica e disforme de corpos que dispara tiros por todos os lados? Troo!

Vamos aos números (afinal, score é coisa de troo e neste post não podia faltar):

Gráficos: 8,0
Som: 7,0 
Desafio: 7,0
Diversão: 9,0

Nota: 8, arredondando para cima. O som e o desafio podiam ser mais inovadores, afinal, Radiant Silvergun sairia em poucos anos, mas isso tiraria todo o trooismo do jogo, que também é indispensável.

Enfim, fica aí a dica: Air Gallet é o shmup troo que vc procurava. Jogá-lo é como reviver um Flying Shark com esteróides. Não tem arma mirabolante (inútil tem, mas tudo bem!), não tem jogabilidade diferenciada, não tem nada essencialmente inovador, mas, em compensação, tem tudo o que você espera de um shmup clássico e em grandes quantidades. Ele é, ao mesmo tempo, um exemplo perfeito de shmup da década de 80 e de 90, sem que faltem características de nenhuma das gerações. Um jogão honesto e que cumpre a proposta.

Segue um videozinho do Air Gallet, para a galera preguiçosa que não gosta de usar o Google:


Um dia eu ainda crio vergonha na cara e compro a placa de fliperama* do Air Gallet, do Tokio e do Flying Shark. Afinal, troo que é troo joga de pé, no gabinete arcade. E se você ainda não chegou a este ponto (o que pode significar um saudável sinal de sanidade), jogue ele no seu Mame favorito, que também emula perfeitamente.


*Ou monto o meu Arcade-PC, já que o hardware já está todo aqui.

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