Aproveitando o clima de retrospectiva, nostalgia e aviões antigos, vou falar sobre Flying Shark, que é considerado por muitos um marco na história dos shmups e que veio a definir as principais características do estilo nos anos que se seguem.Houveram versões para praticamente todas as plataformas da época, como Amiga, Commodore 64, PC, ZX Spectrum, Amstrad, Atari ST, X68000, FM Towns e NES. A grande maioria das versões conseguiu capturar bem a mecânica e a dificuldade do jogo, porém, a beleza dos gráficos e da música não foi fielmente transportada para nenhuma delas. Nada se compara a jogar a versão Arcade. Em uma máquina de Arcade, de preferência. Eu pude jogar, nos idos de 88 a 90, no Shopping Iguatemi, e considero-me um privilegiado. Lembro bem que a máquina ficava entre Arkanoid e Gladiator, outros dois favoritos. Havia uma Black Tiger por perto também, a qual eu dividia metade das fichas compradas, sendo que a outra metade ficava com Flying Shark.

Tanques, biplanos, um rio barrento e uma arma que dispara 1 tiro à cada 2 segundos... o que mais um homem pode querer?
O jogo é um shmup vertical sem muitas opções. Você pode capturar power-ups (as letras "S" que vem voando quando se destroi uma fileira de biplanos vermelhos) ou bombas, que aparecem aleatoriamente quando se abate inimigos. Os power-ups aumentam de forma lenta e gradual o poder-de-fogo e só há uma arma. As bombas praticamente limpam a tela toda, porém, fazem mais estrago no local onde explodem. É possível ganhar bônus matando fileiras de biplanos amarelos. Há inimigos grandes como tanques, navios, bombardeiros lentos que surgem por trás e bunkers com artilharia anti-aérea espalhados pelo cenário. Também é possível destruir o topo de morros para revelar garagens de tanques, o que acaba atrapalhando um bocado, pois eles todos começam a atirar em você assim que surgem.

Você deve estar pensando: -"Porque raios este sujeito falou tão bem de Flying Shark nos parágrafos anteriores sendo que o jogo parece só mais um shmup bobo, antigo e sem-graça?" A resposta está no termo ajuste fino, que também foi citado lá em cima. Flying Shark não conta com tempestades de tiros, nem com apelo visual, nem com inimigos que tomam a tela toda, muito menos com um poder-de-fogo absurdo capaz de varrer a tela. Ele é um jogo único pelo capricho em que tudo foi planejado. Os inimigos tem o dom de mandar um tiro no local exato onde seu avião vai estar dentro de 2 segundos. E não são milhões de tiros, é um só! Os chefes precisam de muitos tiros para morrer... e se você pensa que as bombas vão salvar sua vida, está muito enganado! Elas danificam bem as máquinas maiores, mas em muitos casos só vão te dar algum tempo para respirar. A cadência com que os inimigos entram na tela, já mirando e atirando em você, é algo fantásticamente difícil, cruel e sádico. O jogo requer ATENÇAO PLENA E ABSOLUTA em 100% do tempo, caso contrário, você vai acabar morrendo à rodo. Este não é um jogo para quem gosta de shmups. É um jogo para quem quer desafio. Não tem muitos recursos, nem um speed up seu avião tem (e olha que isso seria ótimo!), e os inimigos vem em grande escala.
Aí, novamente, você vai dizer: -"Que porcaria! Se o jogo é tão difícil assim, por que jogá-lo?" Só posso garantir que Flying Shark é divertido na mesma proporção que é difícil. Os poucos recursos fazem uma curva de aprendizado rápida, onde o jogador (depois de apanhar um bocado no começo), já passa a dominar as noções básicas em pouco tempo e passar com certa facilidade o começo do jogo. Os inimigos são muito bem-programados, porém, tem suas limitações, e quando você descobre como estas limitações funcionam e passa a explorá-las, o jogo ganha uma nova dimensão. Exemplos: Os aviões quase não fazem curvas. Se você não pode derrubá-los, apenas desvie. Os tanques não conseguem virar as torres rápido o suficiente para te atingir, e só atiram quando você está na mira... portanto, continue se mexendo! Alguns bunkers não atiram "para cima", portanto, fique exatamente em cima deles e atire.
Vamos aos números de Flying Shark...
Gráficos: 9.0
O jogo tem gráficos lindos para a época. Os cuidados com cores, sombras, colisão de sprites, com um mínimo de slowdown possível. Alguns sprites são realmente grandes, outros são enormes (se é que são sprites), e tudo se comporta muito bem ao mesmo tempo na tela. O jogo só não ganha um 10 pois Flying Shark não inovou muito. Os inimigos são muito repetitivos, alguns apenas mudam as cores, outros simplesmente aparecem várias e várias vezes em seguida. Quase perfeito, o que não quer dizer que não seja excelente!
Som: 9.0
Assim como a série 194X, Flying Shark tem músicas apropriadas. É uma melodia com som de marcha militar, instrumentos em FM, rápida e adequada. Não me lembro de ter outro jogo, naquela época, que casasse tão bem com a música. Alguns instrumentos são meio estridentes e algumas músicas parecem repetir-se várias vezes, mas no geral é um ótimo trabalho.
Desafio: 10.0 (mas podia ser 11!)
Se tem um shmup casca-grossa, seu nome é Flying Shark. Eu diria que todo mundo devia tentar jogar ele pelo menos uma vez na vida, só para poder ter como referencial. Se você é um jogador de shmups do tipo "liga-júnior", que gosta de armas grandes e inimigos burros, esqueça este jogo. Se você quer desafio, achou o jogo perfeito.
Diversão: 10.0
A palavra "Classico" se encaixa bem. Quem jogar Flying Shark vai entender o porquê de ele ter sido lançado para tantas plataformas, de ter sido inspiração para tantos jogos e de ser tão jogado até hoje. Quem conseguir suportar o treinamento alá "Pai Mei" das primeiras horas de jogo, vai ver que é um jogão que ninguém deve deixar de dar uma olhada.
Overall: 9.5
Um clássico sem dúvida. Dá vontade de comprar a máquina de arcade pra colocar na sala.
Pontos interessantes:
- CPU: Um 68000 + Z80 + 320C10 + um YM-3812 para o som.
- A Continuação saiu para Mega Drive e Arcade, com nome de Same! Same! Same! (ou Shark! Shark! Shark!).
- A versão americana (Sky Shark) é uma das placas de arcade mais difíceis de se fazer manutenção, especialmente dessoldar os chips. O mesmo problema não ocorre com a japonesa.
- O jogo tem ligação com Batsugun, outro título da Toaplan, que curiosamente é o oposto total de Flying Shark. É um jogo extremamente fácil, com apelo visual e armas monstruosas que varrem a tela. Mas é um shmup muito bom!
- Segundo a história de Batsugun, o piloto do avião de Flying Shark se chama Rom Shcneider.
- A versão de X68000 é quase tão boa quanto a de Arcade, e é um pouco mais fácil. Quem quiser tentar jogar Flying Shark Light, é a que eu recomendo.
- A versão de Amiga e Atari ST é tenebrosamente horrível. O hardware é quase o mesmo e eles conseguiram dar um downgrade terrível no jogo. Não vale nem colocar o vídeo aqui. Já a versão de ZX Spectrum é bem legal, levando em consideração o hardware, e vale muito à pena ser jogada.
- Há também para Mega Drive e Arcade um jogo chamado Fire Shark. Não consegui cruzar informações para confirmar se é o mesmo jogo que Same! Same! Same! ou não. Update: Sim, Fire Shark e Same! Same! Same! são o mesmo jogo !

2 comentários:
Mas afinal de contas, onde consigo baixar essa lenda pro meu pc? tem como?
Eu jogava direto na máquina e depois nunca mais vi...
Onde consigo este game? a última vez q joguei foi em 1992..morro de saudades.
se alguém souber me informe nesse e-mail por favor
kasadosite@globo.com
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